domingo, 19 de julho de 2009

IV. A escrita das coisas

Selecionei abaixo alguns trechos que acredito serem importantes para a reflexão sobre as PALAVRAS e as COISAS, a partir de nossa reflexão o significado das palavras e seu sentido na busca de significado. Deixo abaixo o link onde podemos ler o trecho inteiro deste texto e também o livro de Michel foucault, As palavas e as coisas.


No seu ser bruto e histórico do século XVI, a lingua­gem não é um sistema arbitrário; está depositada no mundo e dele faz parte porque, ao mesmo tempo, as próprias coisas escondem e manifestam seu enigma como uma linguagem e porque as palavras se propõem aos homens como coisas a decifrar. (...)

As palavras agrupam sílabas e as sílabas, letras, porque há, depositadas nestas, virtudes que as aproximam e as desassociam, exatamente como no mundo as marcas se opõem ou se atraem umas às outras. (...)

Sob sua forma primeira, quando foi dada aos homens pelo próprio Deus, a linguagem era um signo das coisas abso­lutamente certo e transparente, porque se lhes assemelhava. Os nomes eram depositados sobre aquilo que designavam, assim como a força está escrita no corpo do leão, a realeza no olhar da águia, como a influência dos planetas está mar­cada na fronte dos homens: pela forma da similitude. (...)

Todas as línguas que co­nhecemos, só as falamos agora com base nessa similitude perdida e no espaço por ela deixado vazio. (...)

Mas, se a linguagem não mais se assemelha imediata­mente às coisas que ela nomeia, não está por isso separada do mundo; continua, sob uma outra forma, a ser o lugar das revelações e a fazer parte do espaço onde a verdade, ao mes­mo tempo, se manifesta e se enuncia. (...)

As línguas estão com o mundo numa relação mais de analogia que de significação; ou, antes, seu valor de signo e sua função de duplicação se sobrepõem; elas dizem o céu e a terra de que são a imagem; (...)

Doravante, a lin­guagem tem por natureza primeira ser escrita. Os sons da voz formam apenas sua tradução transitória e precária. O que Deus depositou no mundo são palavras escritas; quando Adão im­pôs os primeiros nomes aos animais, não fez mais que ler essas marcas visíveis e silenciosas; (...)

Saber consiste, pois, em referir a linguagem à lingua­gem. Em restituir a grande planície uniforme das palavras e das coisas. Em fazer tudo falar. Isto é, em fazer nascer, por sobre todas as marcas, o discurso segundo do comentário. O que é próprio do saber não é nem ver nem demonstrar, mas interpretar. (...)

“Há mais a fazer interpretando as interpretações que interpretando as coisas; e mais livros sobre os livros que so­bre qualquer outro assunto; nós não fazemos mais que nos entreglosar.” (...)

Vê-se que a experiência da linguagem pertence à mes­ma rede arqueológica a que pertence o conhecimento das coisas da natureza. Conhecer essas coisas era patentear o sis­tema das semelhanças que as tornavam próximas e solidá­rias umas às outras; (...)

O co­mentário se assemelha indefinidamente ao que ele comenta e que jamais pode enunciar; assim como o saber da natureza encontra sempre novos signos da semelhança, porque a se­melhança não pode ser conhecida por si mesma, já que os signos não podem ser outra coisa senão similitudes. (...)

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